
ATIVIDADES EXPERIMENTAIS E O ENSINO INVESTIGATIVO
A inclusão de atividades experimentais no planejamento pedagógico dos professores das diferentes áreas, particularmente nas Ciências da Vida, como a Biologia, apresenta-se como fator muito importante para tornar o conteúdo mais compreensível, menos abstrato para os educandos. As atividades experimentais constituem um recurso didático que pode auxiliar o professor em suas estratégias de ensino, o que foi apresentado na teoria, favorecendo a aquisição de novos conceitos, tornando o conteúdo mais representativo e próximo da realidade, o que pode despertar no educando o gosto pela disciplina (KRASILCHIK, 2016).
Para Krasilchik, As aulas de laboratório têm um lugar insubstituível nos cursos de Biologia, pois desempenham funções únicas: permitem que os alunos tenham contato direto com os fenômenos, manipulando os materiais e equipamentos e observando organismos. Na análise do processo biológico, verificam concretamente o significado da variabilidade individual e a consequente necessidade de se trabalhar sempre com grupos de indivíduos para obter resultados válidos. Além disso, somente nas aulas práticas os alunos enfrentam os resultados não previstos, cuja interpretação desafia sua imaginação e raciocínio KRASILCHIK (2016, p.88).
Uma aula experimental necessita ir além de uma simples aula de laboratório, em que o aluno é apenas um observador, preso em um procedimento pré-estabelecido. Os estudantes precisam ser submetidos a situações que propiciem ir além da reprodução de conhecimentos; eles precisam definir/resolver um problema, planejar suas ações, os procedimentos e equipamentos que usarão para a coleta de dados, testar suas hipóteses, reconhecer as variáveis 17 e o referencial das mesmas e a relação entre a informação e a construção de uma explicação, interpretando os resultados, formulando suas próprias conclusões. Essas condições pedagógicas (status pedagógico) podem ser alcançadas por meio da realização de atividades experimentais investigativas (VALDEZ, 2017).
Uma abordagem investigativa não deve se resumir a um conjunto de etapas predefinidas, tampouco se restringir a uma mera manipulação de objetos ou realização de experimentos em um laboratório. Ao contrário, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC):
A abordagem investigativa deve promover o protagonismo dos estudantes na aprendizagem e na aplicação de processos, práticas e procedimentos, a partir dos quais o conhecimento científico e tecnológico é produzido. Nessa etapa da escolarização, ela deve ser desencadeada a partir de desafios e problemas abertos e contextualizados, para estimular a curiosidade e a criatividade na elaboração de procedimentos e na busca de soluções de natureza teórica e/ou experimental. Dessa maneira, intensificamse o diálogo com o mundo real e as possibilidades de análises e de intervenções em contextos mais amplos e complexos, como no caso das matrizes energéticas e dos processos industriais, em que são indispensáveis os conhecimentos científicos, tais como os tipos e as transformações de energia, e as propriedades dos materiais. Vale a pena ressaltar que, mais importante do que adquirir as informações em si, é aprender como obtê-las, como produzi-las e como analisá-las criticamente (BRASIL, 2018, p. 551).
Dentro dessa perspectiva, entendemos que, utilizando a estratégia de investigação de situações-problema em sala de aula, o professor propicia ao aluno a oportunidade para investir no desenvolvimento de sua autonomia intelectual. Segundo Sasseron (2015), o ensino por investigação não deve limitar-se aos conteúdos e temas distintos, presentes nos componentes curriculares, pois pode ser implantado de diversas formas em diferentes áreas do conhecimento, podendo abordar aspectos ligados ao trabalho, questões morais e éticas, entre outros (SASSERON, 2015).
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Pesquisa (National Research Council- NRC) dos Estados Unidos, no ano 2000, propôs cinco aspectos fundamentais para que uma atividade seja reconhecida como investigativa:
a) Deve engajar os estudantes com problemas de orientação científica;
b) Incentivar a análise de evidências em resposta ao problema proposto;
c) Elaborar explicações por meio de evidências coletadas;
d) Levar em consideração as explicações diferentes da sua, referente ao problema estudado;
e) Promover a comunicação e justificativas construídas em resposta ao problema a ser investigado (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2000).
As características supracitadas colocam o aluno no centro do processo, torna-o protagonista no desenvolvimento do seu próprio conhecimento, fazendo com que busquem respostas para o problema em questão, valorizando a atividade, a argumentação e a comunicação científicas.
Considerando o exposto, é possível verificar que existem muitos indícios de que a aplicação de atividades experimentais apresenta um grande potencial para ajudar os estudantes a consolidarem e a ampliarem os significados dos conceitos bioquímicos. Em sintonia com esse pensamento, foi idealizado e elaborado o Manual de Experimentos de Bioquímica “Com as Mãos na Massa”, voltado para o professor do Ensino Médio das escolas públicas. O propósito maior foi auxiliá-lo no planejamento de atividades experimentais, buscando implementar características do ensino investigativo, facilitando seu trabalho e motivando-o a inserir a abordagem experimental de forma mais representativa no seu planejamento pedagógico. Este Manual, no qual estão compilados de forma organizada, buscando sempre clareza e objetividade, um conjunto de experimentos com características investigativas dentro de temas da Bioquímica, além de constituir-se em material de apoio para professores do Ensino Médio, pretende ajudá-los a implementar estratégias que o aproximem mais de seu alunado, favorecendo a interação aluno-professor, aluno-aluno e o despertar da curiosidade e interesse dos educandos.
Isto poderá refletir-se positivamente tanto no desempenho do professor, que é um dos principais atores na difusão do conhecimento científico, quanto no aprendizado dos estudantes, que estarão imersos em ambiente propício para pensar sobre a Ciência e, quando pertinente, a relacioná-la ao seu cotidiano. Esse cenário fértil deverá conduzir a um aprendizado profícuo e efetivo, contribuindo para a consolidação do conhecimento e, assim, contemplando positivamente educadores e educandos.
A teoria básica referente aos tópicos selecionados para serem apresentados nesse Manual é apresentada a seguir.